Não, não estou falando de alguns episódios recentes na cidade, com fatos até muito parecidos. Estou me referindo a uma revolta ocorrida na zona leste de Manaus no ano de 1987. Pelo que me recordo, a empresa responsável pelo transporte coletivo nessa área era a Ajuricaba. Era uma firma praticamente falida, com ônibus em péssimo estado, não cumpria os horários.
Meu pai me conta que era um grande descaso com os passageiros. Certa vez, o motorista fechou a porta traseira e meu pai e minha mãe, grávida de oito meses, ficaram pendurados, seguros apenas pelo apoio de subida. A Avenida Autaz Mirim ainda era só uma estrada de barro, mas muito utilizada e necessária para o transporte. Sei que era uma segunda-feira, pois minha mãe trabalhava em um restaurante no centro da cidade, e esse dia era folga dela. A coisa começou cedo. Logo uma multidão tomou conta da avenida, destino dos ônibus sequestrados, e futura sepultura deles. Assisti a quase todo o episódio. Dos fundos da igreja de São José Operário tínhamos uma vista ampla, panorâmica. De lá víamos os ônibus chegando e sendo empurrados precipício abaixo. Lembro-me, ainda, da polícia de choque acima da avenida em posição de guarda, pronta para descer.
Para quem gosta de de comparar os estilos, nota-se aí o tipo de corte de cabelo que usávamos, os shorts eram curtos, as ombreiras eram moda nas mulheres.
A coragem de alguns que insanamente se aventuravam em cima dos ônibus. Não havia liderança, desordem total.
Para quem gosta de de comparar os estilos, nota-se aí o tipo de corte de cabelo que usávamos, os shorts eram curtos, as ombreiras eram moda nas mulheres.
A coragem de alguns que insanamente se aventuravam em cima dos ônibus. Não havia liderança, desordem total.
Para uma criança era um espetáculo. Para alguns adultos, ali era extravasada toda a raiva e descontentamento com o ser humano da periferia, onde tudo chega depois.
As condições melhoraram. Têm que melhorar. Sou contra as depredações, mas muitas vezes é a forma de os menos favorecidos se fazerem ouvidos.
Por Harlen Gomes Magalhães
Por Harlen Gomes Magalhães
1 comments:
Ola Harlem, li as matérias sobre Maria, Antonia e achei super interessante. Sou historiadora e trabalho justamente na escola Carolina Perolina. Estou fazendo uma artigo e queria uma entrevista com VC. É possível ? Como poderíamos fazer para entrar em contato ? Atenciosamnete Claudia Barros
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